A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) vem registrando um aumento significativo de apreensões de uma nova droga sintética, conhecida como K4. Desenvolvida em laboratório, a nova substância é formada por diversos compostos químicos que imitam os efeitos da maconha, mas com ampla variação em sua potência, por isso, é também chamada de “supermaconha”. Além disso, por ser uma substância líquida, a droga é pulverizada em papel e não tem odor, o que torna a identificação e apreensão muito mais difícil.
De janeiro a setembro de 2021, foram registradas 48 ocorrências de apreensão de drogas sintéticas semelhante ao K4 nas unidades prisionais de Goiás, totalizando 15.583 selos. Número muito superior ao registrado no ano anterior, quando somente uma apreensão de 12 papéis foi realizada. Como a K4 ainda não está catalogada no sistema de Registro de Atendimento Integrado Virtual (RAI) do Estado de Goiás, o levantamento foi realizado de acordo com a descrição dos registros, caracterizada pela direção dos presídios.
Somente em uma única ocorrência, a Polícia Penal de Goiás apreendeu, em março deste ano, 3.500 selos da substância K4. A droga foi encontrada dentro de um colchão, depois que os servidores da Unidade Regional Prisional de Anápolis realizaram uma revista minuciosa no objeto, contando inclusive com o suporte de um aparelho body scan. Esta foi a maior interceptação deste tipo de substância em 2021.
No final de setembro, servidores que vistoriavam os alimentos e produtos de higiene pessoal que são frequentemente entregues pelos familiares, encontraram a substância camuflada em biscoitos, chinelos, xampu, esponja e até dentro de uma maçã.
Mais vigilância
Segundo o diretor-geral de Administração Penitenciária de Goiás, tenente-coronel Rasmussen, a Polícia Penal tem trabalhado vigilante para impedir a entrada de drogas nas unidades prisionais. “Temos casos inusitados de materiais ilícitos, como o K4, escondidos em bola, costura de roupa, colchão. Mas nossos policiais são devidamente treinados para identificar essas situações e trabalham em integração com nosso setor de Inteligência”, conta.
“A própria criatividade dos criminosos ao tentar inovar na maneira de praticar o crime mostra que o cerco está fechado. Eles buscam novas maneiras e novas drogas para praticar o crime nas unidades prisionais, mas nós estamos sempre um passo à frente”, completa.
O superintendente de Segurança Penitenciária, Leopoldo de Castro, explica a interceptação de drogas sintéticas como o K4 só é possível por meio da realização de minuciosos procedimentos de revista. “É muito difícil fazer essas apreensões porque não tem equipamento que identifique e impeça a entrada dessa substância nos presídios. Então, todas as interceptações são resultado da expertise dos nossos policiais e de uma revista bem detalhada, além de às vezes contar com informações da Inteligência com relação à possível tentativa de entrada nas unidades”, conta.
Identificação da droga
O processo de identificação dessas substâncias também é complexo. A princípio ela pode ser facilmente confundida com LSD, o que dificulta precisar corretamente o número de apreensões. De acordo com a coordenadora Geral do Laboratório de Química e Toxicologia Forense da Superintendência de Polícia Técnico-Científica de Goiás (SPTC/GO), a perita criminal Thatianne Teodoro Vieira, a identificação de substâncias análogas ao K4 é feita a partir de dois tipos de exames e um deles é o mesmo utilizado para identificar o LSD.
Thatianne Teodoro explica que o exame preliminar ou de constatação, consiste na aplicação de um reagente na droga a ser analisada, que vai causar a mudança de cor. “Como a apresentação do K4 é semelhante aos selos, utiliza-se o teste de Ehrlich para identificação da substância LSD, DMT, Psilocibina/Psilocina, Bufotenina. Porém, o teste será negativo para identificação de canabinóides sintéticos. Dessa forma, para confirmar a identificação da substância é necessário um segundo exame”, pondera a perita criminal.
De acordo Thatianne Teodoro o exame definitivo utiliza uma técnica complexa para identificação de substâncias químicas, conhecida como Cromotagrafia Gasosa acoplada a Esctrometria de Massas (CGEM). “A complexidade desta técnica é a principal dificuldade para identificação da K4. É necessário um operador com expertise para interpretação dos gráficos obtidos das análises. Além disso, não é possível fazer a identificação imediata porque o equipamento está disponível apenas na Seção de Química Forense, no Instituto de Criminalística”.
A perita criminal conta que segundo a literatura há outra técnica mais simples para identificação dos canabinóides sintéticos conhecida como espectroscopia Raman, porém, o equipamento não está funcionando e ainda não foi testado para análise de K4.
Thatianne Teodoro conta que a primeira identificação de substância análoga ao K4 na Seção de Química Forense ocorreu em fevereiro de 2021. “Houve um aumento considerável em maio de 2021, porém, devido à complexidade da técnica para identificação, além da concentração muitas vezes ser baixa, temos um número pouco expressivo. Cerca de 15 casos de K4 com canabinóide sintético foram identificados até hoje”, diz a perita.